O GERENCIAMENTO DO DESCARTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE BETIM
INTRODUÇÃO
É do conhecimento de boa parte da sociedade, senão toda ela de que a
relação do ser humano com o meio ambiente não tem sido tão boa quanto deveria,
as consequências disso já podem ser verificadas a partir das mudanças
climáticas. Pensando nisso, a nossa intenção inicial era visitar um aterro no
município de Betim e apontar possíveis irregularidades nestes, sua má gestão e a
total falta de zelo deste para com o meio ambiente, pois a ideia que tínhamos
de aterro sanitário era de algo danoso ao extremo para a natureza, e pode ser,
caso não seja bem gerido. O que ocorreu foi que durante o desenvolvimento do
trabalho houve uma total mudança dos nossos paradigmas, uma intensa
desconstrução e reconstrução de conceitos e críticas, mudamos nossa perspectiva
das empresas que gerenciam os aterros, do próprio conceito de aterro sanitário,
da sociedade latu sensu, da ação do consumismo humano e os detritos gerados a
partir desta.
O meio ambiente demorou milhares de anos para se estruturar, a
existência do ser humano representa uma ínfima fração do tempo que a natureza
gastou para construir um ambiente propício para o seu desenvolvimento, porém o
poder de destruição do homem sobre a vida que o cerca tem se revelado
devastador, tanto que as consequências já não podem mais ser mensuradas. Ao
longo desta pesquisa pudemos verificar uma pequena escala da mostra do poder de
modificação que o homem tem sobre o meio que o cerca, durante o projeto pudemos
verificar posições antagônicas neste processo que tomou impulso com a Revolução
Industrial, ou quiçá, com o Iluminismo que supunha uma iluminação do homem
muito questionável nos dias atuais, pois nos faz refutar: “Que espécie de
iluminação faz com que um ser planeje e produza a sua destruição, que de tão
arraigados que se encontram, parecem, por vezes, inconscientes?”. Voltando a
ideia do gerenciamento de resíduos industriais e residenciais no município de
Betim, tivemos a valorosa oportunidade de visitar o antigo aterro do bairro
Citrolândia, localizado na periferia do município e o aterro gerenciado pela
empresa Essencis, às margens da BR 381, nas proximidades do bairro Citrolândia,
tentaremos compartilhar com o caro leitor um pouco do conhecimento que pudemos
adquirir ao longo dessas ricas e singulares experiências.
PERGUNTAS DA
PESQUISA
Como é o
funcionamento de um aterro sanitário?
Como os resíduos
são tratados?
Como está a
situação do antigo aterro do município?
Quais são as
visões que diferentes grupos sociais possuem dos resíduos?
O que ocorre após
a desativação de um aterro?
Quais as
consequências do consumismo exacerbado para o meio ambiente?
JUSTIFICATIVA
A sociedade com a
consolidação do capitalismo e com a modernidade está consumindo cada vez mais,
de certa forma, isto pode ser tratado como algo positivo, pois índica uma maior
satisfação das necessidades do ser humano, por outro lado, esse processo gera
consequências desastrosas para o meio ambiente, visto que muitas sociedades não
possuem um correto sistema para o tratamento dos resíduos gerados pelo consumo,
muitas vezes descomedido. Pensando nisto, decidimos verificar o funcionamento
do processo de gerenciamento dos resíduos do município de Betim, assim nos
deparamos com a existência de aterros e decidimos estudar um pouco mais sobre
seu funcionamento, sobre o tratamento dos resíduos e a forma como é depositado
no meio ambiente.
O QUE QUEREMOS
ALCANÇAR COM A PESQUISA?
Algumas
reportagens foram publicadas através de veículos regionais de notícias, sendo
assim, tivemos grande curiosidade em verificar a veracidade das informações
apresentadas pela notícia, e no decorrer do processo conhecer as diferentes
versões dos fatos. Além disso, é de nossa intenção ampliar nossos conhecimentos
acerca do funcionamento de algo presente no cotidiano da sociedade, que é jogar
o lixo fora, decidimos procurar saber onde fica este “fora” de que tanto se
fala em uma sociedade em que o capitalismo está tão impregnado que não se consegue
ao menos distinguir o “fora” de sua casa, que é o meio ambiente. Além de tudo,
temos a avidez de complementar a nossa formação acadêmica com quaisquer
informações que nos possam acrescentar maior senso crítico para com a sociedade
na qual estamos inseridos e maiores conhecimentos de mundo de uma forma geral,
como sua estruturação, seu funcionamento, as relações sociais estabelecidas, e
principalmente, por ser o objeto central do presente estudo, as relações da
sociedade com o meio ambiente.
AÇÕES QUE FAREMOS
PARA REALIZAR A PESQUISA
Realizaremos
pesquisa de campo a fim de verificar na prática o funcionamento das estruturas
que captam os resíduos no município de Betim, faremos apresentação do conteúdo
em formato de relatório, infográficos e outros materiais que julgarmos
pertinentes, além disso, complementaremos com pesquisas realizadas em âmbito
virtual, entrevistas com indivíduos que possuem contato com a realidade
pesquisada, e outros mecanismos que se mostrarem apropriados.
O QUE A MÍDIA
APRESENTA SOBRE O ASSUNTO
“Abandono de
aterro pode causar desastre ambiental” – publicado em Jornal O Tempo Betim em 05/06/2014
“Fim do Aterro
Sanitário no bairro São Salvador II” – publicado em Órgão Oficial Município de
Betim em 29/12/2011
“Além de prejuízo
ambiental, aterro está trincando casas” – publicado em Jornal O Tempo Betim em
12/06/2014
“Prefeitura não
vistoria casas trincadas e revolta população” – publicado em 01/08/2014 em
Betim Online
“Explosão mata
operário em aterro sanitário na 381” – publicado em 29/05/2014 em Jornal O
Tempo Betim
NOSSA PESQUISA
Na visita ao
antigo aterro sanitário de Betim, localizado no bairro Citrolândia – marcado
por um passado em que serviu de colônia para o isolamento de pessoas com
Hanseníase, contexto que faz com que os moradores sofram com preconceitos até
os dias atuais – pudemos verificar que o empreendimento, em fase de desativação
– desde 2011 pela prefeita da época, Maria do Carmo – obtivemos uma percepção
de total descaso com o local, que encontra-se depredado, cujas construções
denotavam aparência de abandono. As paredes e vidros estavam quebrados, havia
sinais de vandalismo, não verificamos fiscalização da entrada e saída dos
caminhões que transportam os resíduos que ainda são despejados no local, pois
mesmo que haja um imponente portão que permanece aberto e um muro de igual
imponência que não chega a cercar todo o terreno, não houve alguém que nos pedisse
as credenciais ou algo do tipo, a não ser um senhor que dizia trabalhar no
local com umas poucas perguntas, mas que não poderia fazer por si só, esforço
nenhum para que um mal intencionado não entrasse ali. Ainda assim, o local
conseguia demonstrar a opulência daquilo que um dia funcionou como uma complexa
estrutura voltada para o gerenciamento (separação dos materiais recicláveis,
transformação dos resíduos orgânicos em matéria decomposta para a constituição
de adubo, para citar alguns exemplos) dos restos do consumo exacerbado de uma
sociedade inconsciente e, por vezes, inconsequente.
Verificando o pico do aterro, algo que fica em torno de 30 a 40 metros
da base, pudemos observar algumas manilhas para o escape dos gases degradadas,
podendo oferecer riscos de explosão, os caminhões que transitavam a todo o
momento levavam rejeitos de construção, o que pode apontar um possível
aterramento para início das obras do parque ecológico que fora prometido na
época da desativação, porém, segundo alguns catadores presentes no local,
muitos caminhões levam consigo resíduos inapropriados, como animais mortos,
televisores antigos, baterias, pilhas, lâmpadas, e até mesmo materiais pegando
fogo, estratégia que muitas pessoas que alugam caçambas utilizam para diminuir
o volume dos resíduos, sem contar nos inúmeros outros artigos resultantes de um
consumismo desenfreado da sociedade capitalista contemporânea. Em determinado
ponto pudemos verificar a presença de mais de cinquenta televisores descartados
e destruídos pelos catadores para o recolhimento dos materiais que mais os
interessavam, muitas das carcaças já haviam sido soterradas sem sofrerem nenhum
processo adequado de destruição e compactação do material, podendo gerar pontos
frágeis no solo devido ao risco de erosão por favorecer que as águas pluviais
criem caminhos preferenciais, o mesmo efeito que ocorre com o pneu que é
depositado por inteiro no aterro.
Havia ainda um foco de incêndio em um dos montes de resíduos, segundo o
operário do local, este provavelmente teria sido causado por jovens residentes
nas imediações do local – que fazem do ponto um lugar para praticar vandalismo
ou fazer uso de drogas ilícitas – disse ainda que um caminhão pipa estava a
caminho para apagar o foco.
Com destinação predominantemente orgânica, já pode
ser observada uma singela vegetação que cresce sobre tudo aquilo já despejado
no local, que demonstra de todas as formas não estar sendo desativado da maneira
mais adequada, mais ainda assim, é como se fosse a natureza a dizer: “Não
importa o que o homem faça, eu sempre me recuperarei.”. Muito abaixo do pico,
pudemos verificar as lagoas para contenção do chorume, que embora possa
transparecer certa regularidade pela presença de material para a
impermeabilização – que se encontra com cor e textura muito questionáveis – do
líquido que possui vazão ininterrupta de ao menos a metade de um cano de 50 mm
de diâmetro.
Numa das lagoas, pudemos observar o que parecia ser o levantamento
do revestimento que deveria revestir o seu fundo, o que indica uma provável
vazão, que pode ocasionar um desastre ambiental com consequências imensuráveis.
Não conseguimos verificar a existência de uma saída para o escoamento do
chorume da lagoa, fato é que devido o volume que entra para o armazenamento (e
ali não possui uma ETE instalada, por se tratar de estrutura complexa e
exigente de manutenções constantes), certamente o líquido deve estar sendo
despejado na natureza indiscriminadamente, pois para que não fosse, deveria
haver coleta e transporte do efluente, o que não pode ser verificado.
Havia
gado pastando no local, o que pode apresentar alguns riscos para aqueles que
consomem os derivados desses animais e para os próprios animais, por se tratar
de área com inúmeras fazendas em seu entorno, a incorreta desativação do aterro
pode ser ainda mais danosa, pois muitos moradores fazem uso de água proveniente
de poços artesianos. O agente que se encontrava no local se mostrava o tempo
todo apreensivo com nossa visita – embora não nos tivesse acompanhado, e ainda
se esquivava de questionamentos ou os respondia com meias palavras. Um dos
catadores se dispôs a conversar conosco por alguns instantes, interrompendo sua
atividade numa pilha de resíduos onde separava materiais recicláveis. Senhor
João (nome fictício), disse morar no local próximo do aterro que dava para ser
visto dali mesmo, desde antes de sua fundação (meados de 1996), e recorda
emocionado da época em que o aterro funcionava de verdade, época em que faziam
a triagem dos resíduos que iam para o local em um galpão de separação, recorda
ainda da época de grandes hortas que cultivavam ali e que se desenvolviam
satisfatoriamente graças à matéria orgânica que era produzida no próprio aterro
com a mão de obra dos catadores e que depois eram distribuídas para as
comunidades do entorno. João nos contou ainda, enquanto apontava para um
determinado ponto onde se podia ver uma caixa d’água azul em um aglomerado às
margens do aterro, que suas duas casas foram construídas graças ao trabalho
árduo de mais de dez anos no local. Para nós, inseridos em uma sociedade onde
temos determinados padrões de condutas a serem seguidos, é extremamente
complexo conceber a ideia de que é possível que alguém construa uma vida a
partir dos restos de uma sociedade consumista que busca a satisfação de um
prazer que não pode ser saciado, produzimos uma imensa quantidade de lixo que
nós mesmos no cotidiano não notamos, mas aquelas pessoas notam, e notam que
jogamos fora coisas que julgamos inutilizáveis, obsoletas, desgastadas, mas que
para eles possuem outros valores, outras qualidades, eles veem os resíduos como
algo reaproveitável, ou mesmo que aquilo ainda possui um valor intrínseco, em
um exame minucioso de peças de um conjunto que para nós não passa de mero lixo,
parece um sentimento niilista, mas o que pensamos é que a geração de resíduos
por parte da sociedade deve ser repensada. É complexo e talvez até impossível
acreditar em tal ideia, não a ideia de revisão da conduta capitalista, mas a
ideia de que a partir da sequela do consumismo desenfreado, pessoas
desfavorecidas socioeconomicamente possam, de alguma forma, estruturar suas
vidas.
Há um projeto de
construção de um parque ecológico no local do aterro, porém o projeto caminha
com grande lentidão, devido a necessidade de os gases necessitarem de correto
tratamento, ou por se tratar de obra de iniciativa pública, enfrentando até
mesmo o jogo político que a julgar pela realidade que a cidade enfrenta, pouco
se interessa por algo de interesse coletivo. Não há previsão para o início das
obras, as quais todos os habitantes dos arredores aguardam ansiosamente.
A visita à unidade
da Essencis em Betim foi a mais burocrática possível – não sabemos se foi por
um P.O.P. (Procedimento Operacional Padrão) da empresa ou por um operário ter
morrido devido a uma explosão ocorrida em maio deste ano, conseguimos ter
acesso ao funcionamento do aterro apenas na terceira tentativa, após agendar a
visita e fornecer alguns dados em um formulário na própria página da empresa. A
Essencis é uma grande empresa com unidades em diversos estados do país, possui
uma visão de sustentabilidade que se faz notar aos primeiros contatos com sua
estrutura.
Na sala de espera onde seriam passadas as orientações da visita, uma
caneta da empresa, um crachá de papel reciclado para plantar, com sementes em
seu interior, um colete de segurança e dois pacotes de sementes faziam um
singelo gesto convidando os visitantes a se assentarem, como se a empresa,
através desses itens simbólicos tentasse dizer: “Estamos do lado do meio
ambiente e fazemos questão de demonstrar, porém, queremos que você colabore
conosco!”. Não sabemos o quanto disso é apenas para manter as aparências de boa
empresa, mas todos admiravam os itens enquanto aguardavam ansiosamente pela palestra
que apresentaria a Essencis, suas metas, maquinários de ponta, que segundo os
mesmos ajudam ao máximo a preservar a natureza, despejando o mínimo possível de
dejetos no meio ambiente.
Há por exemplo, um sistema de descontaminação do
solo, onde eles retiram o solo contaminado proveniente do vazamento de um posto
de combustível, por assim dizer, levam para a empresa, tratam o solo e o
devolvem para o local; outro maquinário interessante é a UVE – Unidade de
Valorização Energética, que produz substitutos energéticos com granulometria
definida, inicialmente de 50 mm, tem por objetivo produzir combustível de alta
qualidade a partir de resíduos, respeitando os parâmetros desejados pelas
fábricas de cimento e conforme previsto na legislação de coprocessamento,
reduzindo a quantidade de rejeitos dispensados no aterro em 30%, os outros 70%
tornam-se matéria que entra no processo de produção do cimento alimentando
fornos e em sua própria composição química, a empresa pretende colocar em
funcionamento até o fim do próximo semestre uma planta que fará processo
semelhante com resíduos impregnantes. Além desse maquinário a empresa quer implantar
uma usina para a conversão dos gases resultantes do aterro em energia, que
inicialmente será utilizada para consumo próprio, mas pretende estender para
uso doméstico dependendo da quantidade de gases gerada, o que atualmente
encontra-se em níveis baixos. O recolhimento dos resíduos para a unidade que
gerencia o aterro desde 2012 se volta predominantemente para a área industrial,
muito embora recolha resíduos de cinco municípios, sendo eles Betim, Ibirité,
Igarapé, Sarzedo e Contagem, sob este aspecto esta unidade se situa em âmbito
local, porém, por ser a do grupo Essencis que se encontra mais ao norte do
país, esta é vista em âmbito nacional por poder recolher os resíduos das
regiões localizadas ao norte de Minas Gerais por questões de logística, sendo
assim, há um constante movimento de caminhões vindos de diversas localidades do
país em busca de um espaço vendido pela consultoria da empresa para o depósito
de resíduos gerados pela indústria, que na grande maioria das vezes exige
confidencialidade dos rejeitos que são despejados no aterro, evitando que fotos
sejam tiradas no local sem prévia autorização.
Todos esses resíduos que giram
em torno de 1500 toneladas por dia dão entrada no aterro com alto grau de
fiscalização, resíduos orgânicos das prefeituras chegam com um documento
municipal, os caminhões são pesados e ao fim do mês um fechamento total é
enviado para a prefeitura. Os resíduos industriais, por sua vez, tem a
fiscalização feita desde sua fonte, onde funcionários da Essencis visitam os
compradores do espaço e verificam as condições do material a ser depositado, há
que se ter uma documentação que permita a circulação de certos resíduos, quando
estes chegam na empresa, devem dar entrada com nota fiscal e passam por processo
de vistoria; se são cargas em containers, tambores ou outros isolados, ocorre
uma fiscalização de amostragem, porém há casos em que são verificados cada um
dos itens da carga, além de serem realizados diversos testes laboratoriais a
fim de verificar se estes materiais podem oferecer sérios riscos ao meio
ambiente.
A área de 94
hectares abrigará mais dois aterros, um de classe I e um de classe II, visto
que os dois existentes já estão em fase final de utilização, estes dois
existentes foram criados onde era uma unidade de extração de pedras. A cava foi
feita pela exploração de materiais e agora está em fase final de preenchimento
por resíduos, é algo interessante de se observar levando em conta o
comportamento da sociedade, retira-se a matéria prima para construir objetos de
consumo, depois preenche o espaço vazio com os restos do consumo desenfreado,
parece equação simples, mas se não for bem gerido, pode ocasionar consequências
graves. O aterro sanitário mostra-se a alternativa mais viável economicamente, porém,
se não for bem administrado, pode oferecer grandes riscos ao meio ambiente, isso
não foi escondido em nenhum momento pelos guias que nos acompanharam, embora
haja grandes custos para se monitorar os lençóis freáticos do entorno, cerca de
R$ 2000,00 por ponto, são dezoito pontos de coleta que são monitorados
bimestralmente; após a desativação do aterro, o monitoramento se estende por
mais quinze ou vinte anos, dependendo do aval do órgão ambiental.
Planeja-se
fazer um parque ecológico após a correta desativação e tratamento do aterro, e
como este é de iniciativa privada, é bem provável que fique finalizado antes daquele
que se localiza no bairro Citrolândia, pois é de interesse da empresa, para a
sua própria imagem no mercado e para com a sociedade que os locais que esta
utiliza para gerar receitas sejam bem preservados e tenham uma estética
agradável, e que além disso cumpram um papel social. Por mencionar “papel
social”, pudemos notar que a empresa cumpre uma posição protagonista na fomentação
de programas sociais no bairro Citrolândia, onde possui programas de inclusão
digital, educação ambiental, coral, aulas de dança, entre diversas outras
atividades com a comunidade, a fim de tentar amenizar a segregação sofrida por
estes devido o histórico do local (como comunidade de isolamento dos portadores
de Hanseníase), o que é importante para a mudança dos paradigmas da sociedade.
O aterro possui
sessenta metros de altura de sua base e quando finalizado poderá chegar a
setenta e quatro metros. As duas classes, em processo de desativação contam com
um período de mais seis meses e um ano de atividade cada. A tecnologia
utilizada para a sua estruturação é surpreendente, utilizam uma primeira manta
composta por um substituto da argila envolto por duas membranas, depois uma
segunda camada é composta por PEAD – Polietileno de Alta Densidade,
posteriormente há aplicação de uma terceira camada semelhante a um feltro de alta
resistência, uma quarta camada de terra assegurará que os impermeabilizantes e
isolantes não danifiquem, além disso, a estrutura conta com dutos em meio as
camadas para que ocorra o escoamento do percolato e os gases possam sair e
também há uma camada de pedras e outros materiais, visando proporcionar maior
segurança ao aterro, de acordo com a legislação aplicável. Trata-se de uma
estruturação complexa e tecnologicamente pensada para que ocorram as
manutenções e monitoramentos, então os resíduos são depositados e o diferencial
da Essencis encontra-se na redução do percolato – semelhante ao chorume, porém
possui este nome por se tratar de substância oriunda de material
predominantemente não orgânico ou sintético, sendo assim, a água pluvial se
infiltra, “lava” este material e é originado o percolato. Visando diminuir a
incidência desta substância a empresa cobriu o aterro utilizando uma espécie de
lona, mas que mais se assemelha a um PEAD, o que nos fez questionar se não
havia nenhuma relação com o operário que morreu no local devido à explosão,
quando questionado a respeito, o guia se mostrou nervoso e disse que “Foi devido
uma falha de procedimento por parte do operador de uma máquina que deveria
soterrar uma carga de aerossóis, porém o operador passou por cima de uma das
latas desencadeando uma reação e provocando a explosão.”, uma história
questionável em diversos pontos, mas com necessidade de opinião técnica para
validar a sua veracidade.
O que acontece é que as lonas segundo as estatísticas
da empresa, de fato diminuíram a quantidade de percolato, além de terem
proporcionado uma aparência mais estética ao local, a redução do percolato é
importante para a empresa, visto que seu tratamento é caro, e também para o
meio ambiente, pois a menor quantidade de poluentes gerada durante o processo é
a melhor saída, vale ressaltar ainda que o percolato não é tratado por completo
na Essencis, ocorre apenas um tratamento prévio em uma ETE - Estação de Tratamento de Efluentes - implantada na
empresa e depois é encaminhado para a COPASA para término do tratamento e
realocação nos rios. Não pudemos visitar as lagoas de contenção do percolato,
porém, a empresa nos assegurou de que se tratava de um local bem monitorado e
estruturado de acordo com a legislação aplicada. A empresa conta ainda com um
galpão para armazenamento de lâmpadas e baterias; as lâmpadas, depois de
acumulada certa quantidade são destruídas e seus gases captados, após o
processo, estas são enterradas, as baterias sofrem um processo de desmonte e
são também enterradas, porém em uma espécie de sarcófago de concreto.
A visita terminou
com um singelo gesto de afeto da empresa para com os visitantes, em que os
guias nos levam para um viveiro de plantas de não mais que nove metros
quadrados, com algumas mudas que estes alegaram ser para plantio na área da
empresa e nos pedem para plantar nossos crachás em um vaso com uma placa onde
escrevemos nossos nomes, foi o gesto de uma empresa que a todo o momento quis
demonstrar que se preocupa com o meio ambiente, o que é importante, embora em
alguns aspectos se mostre controverso.
Porém fora o julgamento, é extremamente
desejável que uma empresa de gerenciamento de resíduos demonstre essa
preocupação pelo meio ambiente e invista em tecnologias que busquem não apenas
favorecer suas receitas, mas algo que visa o bem comum, é complexo uma
instituição trabalhar com processos que vão em contramão um com o outro, ora
destrói e modifica o meio com suas ações que tentam auxiliar o ser humano a dar
fim às sequelas de sua busca incessante pelo prazer do consumo, ora tenta
estruturar o meio que modifica auxiliando o homem a se policiar para que não se
torne uma marionete nas mãos do capitalismo selvagem que destrói, que entope
cavas e cria montes que demorarão mais tempo do que o homem levou para se
iluminar para se deteriorarem.
A visita terminou quase ao pôr do sol, a água de
uma forte chuva que caíra à tarde, quase impossibilitando a visita evaporava
vorazmente, e a natureza mostrava a sua resiliência da forma mais simbólica já
contemplada pelo homem, mostrava ao mesmo tempo o fim e o início de um
processo, daí relacionamos com o fim dos resíduos e o início de algo mais, algo
que ficará para as próximas gerações, mas que ainda não conseguimos precisar do
que se trata, não é algo a nível local, mas resultado de um consumismo que se
instalou em toda a aldeia global. A placa da Essencis ficava para trás e
idealizávamos como deveria ser o parque que pretendem construir no futuro.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Foi extremamente
produtivo ter visitado esses dois aterros, vimos dois locais em posições
antagônicas, construímos e desconstruímos diversos conceitos, paradigmas foram
quebrados e reestruturados, mas muito importante foi poder perceber os efeitos
do consumismo no meio ambiente para que possamos rever as nossas próprias
condutas enquanto integrantes de um todo que é a sociedade e ao mesmo tempo
enquanto seres em nossa individualidade. O consumismo sem medidas há que ser
repensado pelo homem, o meio ambiente sofre as consequências de um abuso que
atravessa séculos e o ser humano, com sua intensa busca pelo preenchimento de
um vazio está criando um grande desequilíbrio em seu nicho, é como se ele
estivesse transferindo o seu vazio para o meio que o cerca na tentativa
frustrada de preenche-lo. Ter verificado as diferentes representações que os
resíduos gerados na sociedade consumista tem para com a sociedade como um todo
foi de grande riqueza e reflexão, no fez refutar se determinadas condutas são
de fato adequadas. A Essencis, enquanto uma empresa que busca incessantemente
produzir lucros para apenas entrar nas estatísticas do capitalismo selvagem,
desempenha um papel que vai na contramão desse processo, ela cumpre papéis
sociais que são de grande importância para a sociedade em seu entorno, porém há
que se refutar criticamente se isso não passa de mero jogo capitalista para ter
uma imagem melhor perante a sociedade e se algo a mais não ocorre por trás de
suas estatísticas de taxas menores de agressão ao meio ambiente. O aterro
sanitário não é de longe a melhor solução para os tratamentos de resíduos
provenientes da ação humana, alternativas menos danosas ao meio ambiente podem
ser postas em prática, porém em sua maioria possuem um alto custo. A solução
ideal seria tratar a geração de resíduos em sua fonte, que é o consumismo
acrítico, exacerbado, inconsciente e inconsequente.
Devemos ainda, sempre nos
recordar de que somos um hóspede no planeta e toda a natureza que nos cerca
estava formada desde antes de nossa existência, o planeta já se mostrou mais
forte que o ser humano em diversas situações e como toda estrutura, este apresenta
um limite, um ponto de equilíbrio entre a normalidade e o colapso. A pergunta
final, seria mais próxima de: “A que preço o ser humano quer satisfazer todas
as suas necessidades?”.
REFERÊNCIAS
Aterro Sanitário - http://www.cetesb.sp.gov.br/
Essencis unidade
Betim - http://www.essencis.com.br/
Jornal O Tempo
Betim - http://www.otempo.com.br/
Lixão x Aterro - http://www.lixo.com.br/index.php
Resolução Nº 404, de 11 de novembro de 2008 (CONAMA)
Outros arquivos
Nenhum comentário:
Postar um comentário