quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O GERENCIAMENTO DO DESCARTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE BETIM


INTRODUÇÃO
     É do conhecimento de boa parte da sociedade, senão toda ela de que a relação do ser humano com o meio ambiente não tem sido tão boa quanto deveria, as consequências disso já podem ser verificadas a partir das mudanças climáticas. Pensando nisso, a nossa intenção inicial era visitar um aterro no município de Betim e apontar possíveis irregularidades nestes, sua má gestão e a total falta de zelo deste para com o meio ambiente, pois a ideia que tínhamos de aterro sanitário era de algo danoso ao extremo para a natureza, e pode ser, caso não seja bem gerido. O que ocorreu foi que durante o desenvolvimento do trabalho houve uma total mudança dos nossos paradigmas, uma intensa desconstrução e reconstrução de conceitos e críticas, mudamos nossa perspectiva das empresas que gerenciam os aterros, do próprio conceito de aterro sanitário, da sociedade latu sensu, da ação do consumismo humano e os detritos gerados a partir desta.
   O meio ambiente demorou milhares de anos para se estruturar, a existência do ser humano representa uma ínfima fração do tempo que a natureza gastou para construir um ambiente propício para o seu desenvolvimento, porém o poder de destruição do homem sobre a vida que o cerca tem se revelado devastador, tanto que as consequências já não podem mais ser mensuradas. Ao longo desta pesquisa pudemos verificar uma pequena escala da mostra do poder de modificação que o homem tem sobre o meio que o cerca, durante o projeto pudemos verificar posições antagônicas neste processo que tomou impulso com a Revolução Industrial, ou quiçá, com o Iluminismo que supunha uma iluminação do homem muito questionável nos dias atuais, pois nos faz refutar: “Que espécie de iluminação faz com que um ser planeje e produza a sua destruição, que de tão arraigados que se encontram, parecem, por vezes, inconscientes?”. Voltando a ideia do gerenciamento de resíduos industriais e residenciais no município de Betim, tivemos a valorosa oportunidade de visitar o antigo aterro do bairro Citrolândia, localizado na periferia do município e o aterro gerenciado pela empresa Essencis, às margens da BR 381, nas proximidades do bairro Citrolândia, tentaremos compartilhar com o caro leitor um pouco do conhecimento que pudemos adquirir ao longo dessas ricas e singulares experiências.

PERGUNTAS DA PESQUISA
Como é o funcionamento de um aterro sanitário?
Como os resíduos são tratados?
Como está a situação do antigo aterro do município?
Quais são as visões que diferentes grupos sociais possuem dos resíduos?
O que ocorre após a desativação de um aterro?
Quais as consequências do consumismo exacerbado para o meio ambiente?

JUSTIFICATIVA
   A sociedade com a consolidação do capitalismo e com a modernidade está consumindo cada vez mais, de certa forma, isto pode ser tratado como algo positivo, pois índica uma maior satisfação das necessidades do ser humano, por outro lado, esse processo gera consequências desastrosas para o meio ambiente, visto que muitas sociedades não possuem um correto sistema para o tratamento dos resíduos gerados pelo consumo, muitas vezes descomedido. Pensando nisto, decidimos verificar o funcionamento do processo de gerenciamento dos resíduos do município de Betim, assim nos deparamos com a existência de aterros e decidimos estudar um pouco mais sobre seu funcionamento, sobre o tratamento dos resíduos e a forma como é depositado no meio ambiente.

O QUE QUEREMOS ALCANÇAR COM A PESQUISA?
   Algumas reportagens foram publicadas através de veículos regionais de notícias, sendo assim, tivemos grande curiosidade em verificar a veracidade das informações apresentadas pela notícia, e no decorrer do processo conhecer as diferentes versões dos fatos. Além disso, é de nossa intenção ampliar nossos conhecimentos acerca do funcionamento de algo presente no cotidiano da sociedade, que é jogar o lixo fora, decidimos procurar saber onde fica este “fora” de que tanto se fala em uma sociedade em que o capitalismo está tão impregnado que não se consegue ao menos distinguir o “fora” de sua casa, que é o meio ambiente. Além de tudo, temos a avidez de complementar a nossa formação acadêmica com quaisquer informações que nos possam acrescentar maior senso crítico para com a sociedade na qual estamos inseridos e maiores conhecimentos de mundo de uma forma geral, como sua estruturação, seu funcionamento, as relações sociais estabelecidas, e principalmente, por ser o objeto central do presente estudo, as relações da sociedade com o meio ambiente.

AÇÕES QUE FAREMOS PARA REALIZAR A PESQUISA
   Realizaremos pesquisa de campo a fim de verificar na prática o funcionamento das estruturas que captam os resíduos no município de Betim, faremos apresentação do conteúdo em formato de relatório, infográficos e outros materiais que julgarmos pertinentes, além disso, complementaremos com pesquisas realizadas em âmbito virtual, entrevistas com indivíduos que possuem contato com a realidade pesquisada, e outros mecanismos que se mostrarem apropriados.

O QUE A MÍDIA APRESENTA SOBRE O ASSUNTO
“Abandono de aterro pode causar desastre ambiental” – publicado em Jornal O Tempo Betim em 05/06/2014
“Fim do Aterro Sanitário no bairro São Salvador II” – publicado em Órgão Oficial Município de Betim em 29/12/2011
“Além de prejuízo ambiental, aterro está trincando casas” – publicado em Jornal O Tempo Betim em 12/06/2014
“Prefeitura não vistoria casas trincadas e revolta população” – publicado em 01/08/2014 em Betim Online
“Explosão mata operário em aterro sanitário na 381” – publicado em 29/05/2014 em Jornal O Tempo Betim

NOSSA PESQUISA
   Na visita ao antigo aterro sanitário de Betim, localizado no bairro Citrolândia – marcado por um passado em que serviu de colônia para o isolamento de pessoas com Hanseníase, contexto que faz com que os moradores sofram com preconceitos até os dias atuais – pudemos verificar que o empreendimento, em fase de desativação – desde 2011 pela prefeita da época, Maria do Carmo – obtivemos uma percepção de total descaso com o local, que encontra-se depredado, cujas construções denotavam aparência de abandono. As paredes e vidros estavam quebrados, havia sinais de vandalismo, não verificamos fiscalização da entrada e saída dos caminhões que transportam os resíduos que ainda são despejados no local, pois mesmo que haja um imponente portão que permanece aberto e um muro de igual imponência que não chega a cercar todo o terreno, não houve alguém que nos pedisse as credenciais ou algo do tipo, a não ser um senhor que dizia trabalhar no local com umas poucas perguntas, mas que não poderia fazer por si só, esforço nenhum para que um mal intencionado não entrasse ali. Ainda assim, o local conseguia demonstrar a opulência daquilo que um dia funcionou como uma complexa estrutura voltada para o gerenciamento (separação dos materiais recicláveis, transformação dos resíduos orgânicos em matéria decomposta para a constituição de adubo, para citar alguns exemplos) dos restos do consumo exacerbado de uma sociedade inconsciente e, por vezes, inconsequente.

Verificando o pico do aterro, algo que fica em torno de 30 a 40 metros da base, pudemos observar algumas manilhas para o escape dos gases degradadas, podendo oferecer riscos de explosão, os caminhões que transitavam a todo o momento levavam rejeitos de construção, o que pode apontar um possível aterramento para início das obras do parque ecológico que fora prometido na época da desativação, porém, segundo alguns catadores presentes no local, muitos caminhões levam consigo resíduos inapropriados, como animais mortos, televisores antigos, baterias, pilhas, lâmpadas, e até mesmo materiais pegando fogo, estratégia que muitas pessoas que alugam caçambas utilizam para diminuir o volume dos resíduos, sem contar nos inúmeros outros artigos resultantes de um consumismo desenfreado da sociedade capitalista contemporânea. Em determinado ponto pudemos verificar a presença de mais de cinquenta televisores descartados e destruídos pelos catadores para o recolhimento dos materiais que mais os interessavam, muitas das carcaças já haviam sido soterradas sem sofrerem nenhum processo adequado de destruição e compactação do material, podendo gerar pontos frágeis no solo devido ao risco de erosão por favorecer que as águas pluviais criem caminhos preferenciais, o mesmo efeito que ocorre com o pneu que é depositado por inteiro no aterro. 

Havia ainda um foco de incêndio em um dos montes de resíduos, segundo o operário do local, este provavelmente teria sido causado por jovens residentes nas imediações do local – que fazem do ponto um lugar para praticar vandalismo ou fazer uso de drogas ilícitas – disse ainda que um caminhão pipa estava a caminho para apagar o foco.
Com destinação predominantemente orgânica, já pode ser observada uma singela vegetação que cresce sobre tudo aquilo já despejado no local, que demonstra de todas as formas não estar sendo desativado da maneira mais adequada, mais ainda assim, é como se fosse a natureza a dizer: “Não importa o que o homem faça, eu sempre me recuperarei.”. Muito abaixo do pico, pudemos verificar as lagoas para contenção do chorume, que embora possa transparecer certa regularidade pela presença de material para a impermeabilização – que se encontra com cor e textura muito questionáveis – do líquido que possui vazão ininterrupta de ao menos a metade de um cano de 50 mm de diâmetro.
Numa das lagoas, pudemos observar o que parecia ser o levantamento do revestimento que deveria revestir o seu fundo, o que indica uma provável vazão, que pode ocasionar um desastre ambiental com consequências imensuráveis. Não conseguimos verificar a existência de uma saída para o escoamento do chorume da lagoa, fato é que devido o volume que entra para o armazenamento (e ali não possui uma ETE instalada, por se tratar de estrutura complexa e exigente de manutenções constantes), certamente o líquido deve estar sendo despejado na natureza indiscriminadamente, pois para que não fosse, deveria haver coleta e transporte do efluente, o que não pode ser verificado.
Havia gado pastando no local, o que pode apresentar alguns riscos para aqueles que consomem os derivados desses animais e para os próprios animais, por se tratar de área com inúmeras fazendas em seu entorno, a incorreta desativação do aterro pode ser ainda mais danosa, pois muitos moradores fazem uso de água proveniente de poços artesianos. O agente que se encontrava no local se mostrava o tempo todo apreensivo com nossa visita – embora não nos tivesse acompanhado, e ainda se esquivava de questionamentos ou os respondia com meias palavras. Um dos catadores se dispôs a conversar conosco por alguns instantes, interrompendo sua atividade numa pilha de resíduos onde separava materiais recicláveis. Senhor João (nome fictício), disse morar no local próximo do aterro que dava para ser visto dali mesmo, desde antes de sua fundação (meados de 1996), e recorda emocionado da época em que o aterro funcionava de verdade, época em que faziam a triagem dos resíduos que iam para o local em um galpão de separação, recorda ainda da época de grandes hortas que cultivavam ali e que se desenvolviam satisfatoriamente graças à matéria orgânica que era produzida no próprio aterro com a mão de obra dos catadores e que depois eram distribuídas para as comunidades do entorno. João nos contou ainda, enquanto apontava para um determinado ponto onde se podia ver uma caixa d’água azul em um aglomerado às margens do aterro, que suas duas casas foram construídas graças ao trabalho árduo de mais de dez anos no local. Para nós, inseridos em uma sociedade onde temos determinados padrões de condutas a serem seguidos, é extremamente complexo conceber a ideia de que é possível que alguém construa uma vida a partir dos restos de uma sociedade consumista que busca a satisfação de um prazer que não pode ser saciado, produzimos uma imensa quantidade de lixo que nós mesmos no cotidiano não notamos, mas aquelas pessoas notam, e notam que jogamos fora coisas que julgamos inutilizáveis, obsoletas, desgastadas, mas que para eles possuem outros valores, outras qualidades, eles veem os resíduos como algo reaproveitável, ou mesmo que aquilo ainda possui um valor intrínseco, em um exame minucioso de peças de um conjunto que para nós não passa de mero lixo, parece um sentimento niilista, mas o que pensamos é que a geração de resíduos por parte da sociedade deve ser repensada. É complexo e talvez até impossível acreditar em tal ideia, não a ideia de revisão da conduta capitalista, mas a ideia de que a partir da sequela do consumismo desenfreado, pessoas desfavorecidas socioeconomicamente possam, de alguma forma, estruturar suas vidas.
   Há um projeto de construção de um parque ecológico no local do aterro, porém o projeto caminha com grande lentidão, devido a necessidade de os gases necessitarem de correto tratamento, ou por se tratar de obra de iniciativa pública, enfrentando até mesmo o jogo político que a julgar pela realidade que a cidade enfrenta, pouco se interessa por algo de interesse coletivo. Não há previsão para o início das obras, as quais todos os habitantes dos arredores aguardam ansiosamente.
   A visita à unidade da Essencis em Betim foi a mais burocrática possível – não sabemos se foi por um P.O.P. (Procedimento Operacional Padrão) da empresa ou por um operário ter morrido devido a uma explosão ocorrida em maio deste ano, conseguimos ter acesso ao funcionamento do aterro apenas na terceira tentativa, após agendar a visita e fornecer alguns dados em um formulário na própria página da empresa. A Essencis é uma grande empresa com unidades em diversos estados do país, possui uma visão de sustentabilidade que se faz notar aos primeiros contatos com sua estrutura.
   Na sala de espera onde seriam passadas as orientações da visita, uma caneta da empresa, um crachá de papel reciclado para plantar, com sementes em seu interior, um colete de segurança e dois pacotes de sementes faziam um singelo gesto convidando os visitantes a se assentarem, como se a empresa, através desses itens simbólicos tentasse dizer: “Estamos do lado do meio ambiente e fazemos questão de demonstrar, porém, queremos que você colabore conosco!”. Não sabemos o quanto disso é apenas para manter as aparências de boa empresa, mas todos admiravam os itens enquanto aguardavam ansiosamente pela palestra que apresentaria a Essencis, suas metas, maquinários de ponta, que segundo os mesmos ajudam ao máximo a preservar a natureza, despejando o mínimo possível de dejetos no meio ambiente.
Há por exemplo, um sistema de descontaminação do solo, onde eles retiram o solo contaminado proveniente do vazamento de um posto de combustível, por assim dizer, levam para a empresa, tratam o solo e o devolvem para o local; outro maquinário interessante é a UVE – Unidade de Valorização Energética, que produz substitutos energéticos com granulometria definida, inicialmente de 50 mm, tem por objetivo produzir combustível de alta qualidade a partir de resíduos, respeitando os parâmetros desejados pelas fábricas de cimento e conforme previsto na legislação de coprocessamento, reduzindo a quantidade de rejeitos dispensados no aterro em 30%, os outros 70% tornam-se matéria que entra no processo de produção do cimento alimentando fornos e em sua própria composição química, a empresa pretende colocar em funcionamento até o fim do próximo semestre uma planta que fará processo semelhante com resíduos impregnantes. Além desse maquinário a empresa quer implantar uma usina para a conversão dos gases resultantes do aterro em energia, que inicialmente será utilizada para consumo próprio, mas pretende estender para uso doméstico dependendo da quantidade de gases gerada, o que atualmente encontra-se em níveis baixos. O recolhimento dos resíduos para a unidade que gerencia o aterro desde 2012 se volta predominantemente para a área industrial, muito embora recolha resíduos de cinco municípios, sendo eles Betim, Ibirité, Igarapé, Sarzedo e Contagem, sob este aspecto esta unidade se situa em âmbito local, porém, por ser a do grupo Essencis que se encontra mais ao norte do país, esta é vista em âmbito nacional por poder recolher os resíduos das regiões localizadas ao norte de Minas Gerais por questões de logística, sendo assim, há um constante movimento de caminhões vindos de diversas localidades do país em busca de um espaço vendido pela consultoria da empresa para o depósito de resíduos gerados pela indústria, que na grande maioria das vezes exige confidencialidade dos rejeitos que são despejados no aterro, evitando que fotos sejam tiradas no local sem prévia autorização. 
Todos esses resíduos que giram em torno de 1500 toneladas por dia dão entrada no aterro com alto grau de fiscalização, resíduos orgânicos das prefeituras chegam com um documento municipal, os caminhões são pesados e ao fim do mês um fechamento total é enviado para a prefeitura. Os resíduos industriais, por sua vez, tem a fiscalização feita desde sua fonte, onde funcionários da Essencis visitam os compradores do espaço e verificam as condições do material a ser depositado, há que se ter uma documentação que permita a circulação de certos resíduos, quando estes chegam na empresa, devem dar entrada com nota fiscal e passam por processo de vistoria; se são cargas em containers, tambores ou outros isolados, ocorre uma fiscalização de amostragem, porém há casos em que são verificados cada um dos itens da carga, além de serem realizados diversos testes laboratoriais a fim de verificar se estes materiais podem oferecer sérios riscos ao meio ambiente.
   A área de 94 hectares abrigará mais dois aterros, um de classe I e um de classe II, visto que os dois existentes já estão em fase final de utilização, estes dois existentes foram criados onde era uma unidade de extração de pedras. A cava foi feita pela exploração de materiais e agora está em fase final de preenchimento por resíduos, é algo interessante de se observar levando em conta o comportamento da sociedade, retira-se a matéria prima para construir objetos de consumo, depois preenche o espaço vazio com os restos do consumo desenfreado, parece equação simples, mas se não for bem gerido, pode ocasionar consequências graves. O aterro sanitário mostra-se a alternativa mais viável economicamente, porém, se não for bem administrado, pode oferecer grandes riscos ao meio ambiente, isso não foi escondido em nenhum momento pelos guias que nos acompanharam, embora haja grandes custos para se monitorar os lençóis freáticos do entorno, cerca de R$ 2000,00 por ponto, são dezoito pontos de coleta que são monitorados bimestralmente; após a desativação do aterro, o monitoramento se estende por mais quinze ou vinte anos, dependendo do aval do órgão ambiental.
Planeja-se fazer um parque ecológico após a correta desativação e tratamento do aterro, e como este é de iniciativa privada, é bem provável que fique finalizado antes daquele que se localiza no bairro Citrolândia, pois é de interesse da empresa, para a sua própria imagem no mercado e para com a sociedade que os locais que esta utiliza para gerar receitas sejam bem preservados e tenham uma estética agradável, e que além disso cumpram um papel social. Por mencionar “papel social”, pudemos notar que a empresa cumpre uma posição protagonista na fomentação de programas sociais no bairro Citrolândia, onde possui programas de inclusão digital, educação ambiental, coral, aulas de dança, entre diversas outras atividades com a comunidade, a fim de tentar amenizar a segregação sofrida por estes devido o histórico do local (como comunidade de isolamento dos portadores de Hanseníase), o que é importante para a mudança dos paradigmas da sociedade.
   O aterro possui sessenta metros de altura de sua base e quando finalizado poderá chegar a setenta e quatro metros. As duas classes, em processo de desativação contam com um período de mais seis meses e um ano de atividade cada. A tecnologia utilizada para a sua estruturação é surpreendente, utilizam uma primeira manta composta por um substituto da argila envolto por duas membranas, depois uma segunda camada é composta por PEAD – Polietileno de Alta Densidade, posteriormente há aplicação de uma terceira camada semelhante a um feltro de alta resistência, uma quarta camada de terra assegurará que os impermeabilizantes e isolantes não danifiquem, além disso, a estrutura conta com dutos em meio as camadas para que ocorra o escoamento do percolato e os gases possam sair e também há uma camada de pedras e outros materiais, visando proporcionar maior segurança ao aterro, de acordo com a legislação aplicável. Trata-se de uma estruturação complexa e tecnologicamente pensada para que ocorram as manutenções e monitoramentos, então os resíduos são depositados e o diferencial da Essencis encontra-se na redução do percolato – semelhante ao chorume, porém possui este nome por se tratar de substância oriunda de material predominantemente não orgânico ou sintético, sendo assim, a água pluvial se infiltra, “lava” este material e é originado o percolato. Visando diminuir a incidência desta substância a empresa cobriu o aterro utilizando uma espécie de lona, mas que mais se assemelha a um PEAD, o que nos fez questionar se não havia nenhuma relação com o operário que morreu no local devido à explosão, quando questionado a respeito, o guia se mostrou nervoso e disse que “Foi devido uma falha de procedimento por parte do operador de uma máquina que deveria soterrar uma carga de aerossóis, porém o operador passou por cima de uma das latas desencadeando uma reação e provocando a explosão.”, uma história questionável em diversos pontos, mas com necessidade de opinião técnica para validar a sua veracidade.
O que acontece é que as lonas segundo as estatísticas da empresa, de fato diminuíram a quantidade de percolato, além de terem proporcionado uma aparência mais estética ao local, a redução do percolato é importante para a empresa, visto que seu tratamento é caro, e também para o meio ambiente, pois a menor quantidade de poluentes gerada durante o processo é a melhor saída, vale ressaltar ainda que o percolato não é tratado por completo na Essencis, ocorre apenas um tratamento prévio em uma ETE - Estação de Tratamento de Efluentes - implantada na empresa e depois é encaminhado para a COPASA para término do tratamento e realocação nos rios. Não pudemos visitar as lagoas de contenção do percolato, porém, a empresa nos assegurou de que se tratava de um local bem monitorado e estruturado de acordo com a legislação aplicada. A empresa conta ainda com um galpão para armazenamento de lâmpadas e baterias; as lâmpadas, depois de acumulada certa quantidade são destruídas e seus gases captados, após o processo, estas são enterradas, as baterias sofrem um processo de desmonte e são também enterradas, porém em uma espécie de sarcófago de concreto.
   A visita terminou com um singelo gesto de afeto da empresa para com os visitantes, em que os guias nos levam para um viveiro de plantas de não mais que nove metros quadrados, com algumas mudas que estes alegaram ser para plantio na área da empresa e nos pedem para plantar nossos crachás em um vaso com uma placa onde escrevemos nossos nomes, foi o gesto de uma empresa que a todo o momento quis demonstrar que se preocupa com o meio ambiente, o que é importante, embora em alguns aspectos se mostre controverso.
Porém fora o julgamento, é extremamente desejável que uma empresa de gerenciamento de resíduos demonstre essa preocupação pelo meio ambiente e invista em tecnologias que busquem não apenas favorecer suas receitas, mas algo que visa o bem comum, é complexo uma instituição trabalhar com processos que vão em contramão um com o outro, ora destrói e modifica o meio com suas ações que tentam auxiliar o ser humano a dar fim às sequelas de sua busca incessante pelo prazer do consumo, ora tenta estruturar o meio que modifica auxiliando o homem a se policiar para que não se torne uma marionete nas mãos do capitalismo selvagem que destrói, que entope cavas e cria montes que demorarão mais tempo do que o homem levou para se iluminar para se deteriorarem.
A visita terminou quase ao pôr do sol, a água de uma forte chuva que caíra à tarde, quase impossibilitando a visita evaporava vorazmente, e a natureza mostrava a sua resiliência da forma mais simbólica já contemplada pelo homem, mostrava ao mesmo tempo o fim e o início de um processo, daí relacionamos com o fim dos resíduos e o início de algo mais, algo que ficará para as próximas gerações, mas que ainda não conseguimos precisar do que se trata, não é algo a nível local, mas resultado de um consumismo que se instalou em toda a aldeia global. A placa da Essencis ficava para trás e idealizávamos como deveria ser o parque que pretendem construir no futuro.



CONSIDERAÇÕES FINAIS
   Foi extremamente produtivo ter visitado esses dois aterros, vimos dois locais em posições antagônicas, construímos e desconstruímos diversos conceitos, paradigmas foram quebrados e reestruturados, mas muito importante foi poder perceber os efeitos do consumismo no meio ambiente para que possamos rever as nossas próprias condutas enquanto integrantes de um todo que é a sociedade e ao mesmo tempo enquanto seres em nossa individualidade. O consumismo sem medidas há que ser repensado pelo homem, o meio ambiente sofre as consequências de um abuso que atravessa séculos e o ser humano, com sua intensa busca pelo preenchimento de um vazio está criando um grande desequilíbrio em seu nicho, é como se ele estivesse transferindo o seu vazio para o meio que o cerca na tentativa frustrada de preenche-lo. Ter verificado as diferentes representações que os resíduos gerados na sociedade consumista tem para com a sociedade como um todo foi de grande riqueza e reflexão, no fez refutar se determinadas condutas são de fato adequadas. A Essencis, enquanto uma empresa que busca incessantemente produzir lucros para apenas entrar nas estatísticas do capitalismo selvagem, desempenha um papel que vai na contramão desse processo, ela cumpre papéis sociais que são de grande importância para a sociedade em seu entorno, porém há que se refutar criticamente se isso não passa de mero jogo capitalista para ter uma imagem melhor perante a sociedade e se algo a mais não ocorre por trás de suas estatísticas de taxas menores de agressão ao meio ambiente. O aterro sanitário não é de longe a melhor solução para os tratamentos de resíduos provenientes da ação humana, alternativas menos danosas ao meio ambiente podem ser postas em prática, porém em sua maioria possuem um alto custo. A solução ideal seria tratar a geração de resíduos em sua fonte, que é o consumismo acrítico, exacerbado, inconsciente e inconsequente.

   Devemos ainda, sempre nos recordar de que somos um hóspede no planeta e toda a natureza que nos cerca estava formada desde antes de nossa existência, o planeta já se mostrou mais forte que o ser humano em diversas situações e como toda estrutura, este apresenta um limite, um ponto de equilíbrio entre a normalidade e o colapso. A pergunta final, seria mais próxima de: “A que preço o ser humano quer satisfazer todas as suas necessidades?”.

REFERÊNCIAS
Aterro Sanitário - http://www.cetesb.sp.gov.br/
Essencis unidade Betim - http://www.essencis.com.br/
Jornal O Tempo Betim - http://www.otempo.com.br/
Resolução Nº 404, de 11 de novembro de 2008 (CONAMA) 
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